Em 2013, o estudante Kim Guerra, de 19 anos que mora aqui de Salvador, usando as redes sociais, conseguiu num abaixo assinado, mais de 900 assinaturas e enviou à Câmara Municipal de Salvador com uma brilhante sugestão, que seria mudar o nome da Avenida Adhemar de Barros em Ondina, substituindo-o pelo do ilustre baiano professor Milton Santos, falecido em 2001, por entender que o logradouro que abriga o importante Campus da Universidade Federal da Bahia, deve ser dedicado a um intelectual.
É que Salvador tem muitas ruas com nomes de pessoas que não possuem nenhuma relação com a Bahia.
Durante muitos anos, os Títulos de Cidadão foram conferidos politicamente, sem muito estudo sobre o homenageado, apenas para enriquecer os currículos legislativos de alguns parlamentares. Isso acabou fazendo com que muitas ruas levassem o nome de pessoas alheias a história da nossa Terra.
O nome de Adhemar de Barros foi um exemplo dessa incoerência. Não era baiano, foi governador e prefeito de São Paulo nas décadas de 50 e 60, concorreu a presidência da república por duas vezes, e sempre teve uma péssima reputação como homem público pelo seu envolvimento com corrupção e irregularidades administrativas.
Poucos sabem que a sarcástica frase, "Rouba mas Faz", foi atribuída inicialmente à ele, e tempos depois foi caindo sobre políticos como, Paulo Maluf e outros, passando assim a ser referência nacional atribuída a administradores e governantes desonestos.
Já o professor Milton Santos, é um nome muito mais justo para denominar a simpática avenida, porque foi um exemplo de honradez e competência.
Ele foi um eminente geógrafo. Além de professor da Universidade Católica do Salvador, lecionou também na Universidades Federais de São Paulo e Rio de Janeiro. Destacou-se por seus trabalhos em diversas áreas, em especial nos Estudos de urbanização do Terceiro Mundo. Foi e continua sendo um nome respeitado na renovação da geografia no Brasil. Foi ganhador de diversos prêmios internacionais, foi um escritor, com mais de 40 livros publicados no Brasil e editados na França, Reino Unido, Portugal, Japão e Espanha.
Mas, em função das suas atividades políticas consideradas de esquerda, Milton Santos foi perseguido pelos órgãos de repressão da ditadura militar. Foi exilado e lecionou fora do país deixando saudáveis lembranças por lá.
Por estas razões, nada mais justo que homenagear um intelectual negro, oriundo da nossa cultura, coisa um tanto rara.
Que essa nossa juventude, além das brincadeirinhas no Facebook, se interesse também por esse lado sociocultural, e que outras justas mudanças de nome das nossas ruas aconteçam.
Max Matos, dizendo tudo.