Caro Senhor Thomé;
Fostes um iluminado. Conseguiu antever o que seria esta Cidade no futuro e por isso realizou a sua fundação. Não foi apenas o poder do Rei de Portugal D. João III, que te escolheu para aquela missão. Houve também uma essência espiritual que já pairava por aqui clamando por desenvolvimento. Não foi apenas a sua visão estratégica que o fez iniciar as primeiras construções num local onde a topografia era irregular num cume de 64 metros acima do nível do mar, e que até hoje muitos contestam. Foram também as forças dos orixás que já eram exercidas nesta terra, que o fizeram ver que mais tarde seriam instalados ali, meios de transportes esquisitos que se chamariam; Elevador, Plano Inclinado e que ligariam as duas partes da sua Cidade. Dificuldades houve é claro, e foram muitas.
Mas o senhor resistiu, porque dentro do si já brotava o sentimento de baianidade que hoje tanto apregoamos, que já o fazia sentir o axé indecifrável, gerador da gigantesca energia que até hoje nos faz um povo diferente, alegre, festivo, místico e trabalhador. Já era o amor por uma Cidade do futuro que iria erguer-se sobre a lendária Soterópolis. Esta grande cidade do futuro, só existia até então na sua fértil imaginação. Seria isso mesmo senhor Thomé? ...Ou será que o senhor viajou no tempo e viu aquela tão sonhada Cidade 468 anos depois, com toda esta beleza, esplendor, magia e encantos? Deve ter sido isso: O senhor viajou no tempo sim.Veio até os tempos atuais e curtiu os prazeres desta Terra junto com o seu povo. Conheceu o nosso carnaval, brincou atrás do trio elétrico, desfez-se das suas pesadas roupas, vestiu um colorido calção e banhou-se nas águas do Farol da Barra, percorreu esta bela orla, sentiu nos pés o calor e maciez das areias de Itapoã, comeu o gostoso acarajé e outras delícias do tabuleiro da baiana. Pasmou-se diante do contraste arquitetônico moderno, e do histórico Pelourinho. Cantou e dançou ao som dos tambores dos blocos afros, delirou ouvindo a música feita aqui, e orgulhou-se de ver todo o Brasil render-se a ela. Participou de todas as festas populares, viu de perto a força da fé; da harmonia entre o povo e as autoridades no Cortejo da Lavagem do Bonfim. Conheceu e viveu as emoções do futebol no clássico Ba-Vi e a exemplar convivência pacífica entre as duas rivais torcidas. Certamente chegou às lágrimas diante das várias homenagens e comemorações anuais de aniversário da Cidade.
Depois de toda essa experiência vivida. Após esta viagem fantástica, o senhor retomou ao seu tempo com muito mais convicção, e entre firmezas e devaneios tocou a Cidade pra frente com tanta vontade que permaneceu aqui além do tempo estabelecido pelo Regimento Português e assim eternizou este 29 de março que a gente vai continuar comemorando orgulhosamente com muita alegria. Obrigado, senhor Thomé! O senhor é quem está de parabéns.
Sem mais, aceite o meu sincero abraço; Pois sei que lá de cima, estás muito feliz e vaidoso, por ter sido o grande fundador da Cidade mais bonita do mundo!
Max Matos, dizendo tudo.