ELA É SANTA!
Me senti altamente gratificado com a canonização da nossa Irmã Dulce, pois todos os baianos já a consideravam uma santa há muito tempo. Assim como eu, que em março de 1999, prestei a homenagem abaixo de forma pública através de um artigo no Jornal A Tarde e que está também no meu futuro livro:
IRMÃ DULCE
Durante muitos anos, acostumei-me a ver a imagem daquela mulher frágil nos jornais, na TV, ou mesmo nas ruas, andando sozinha levando as mãos um modesto classificador, entrando em estabelecimentos comerciais para pedir contribuições para os necessitados que acolhia.
Confesso que a via, como um ser humano superior a nós pessoas comuns, que apesar de crentes em Deus, não conseguimos cumprir à risca um dos seus mandamentos; Amarás ao teu próximo com a ti mesmo”, o que Irmã Dulce fazia naturalmente de forma plena, autêntica, como ninguém.
Mas era difícil para mim, vê-la na televisão e ouvir aquela voz suavemente rouca. E quando isso acontecia, eu fazia um esforço enorme para permanecer na sala, mais nunca conseguia, porque uma emoção diferente e inexplicável tomava conta de mim e as lágrimas me vinham.
Por diversas vezes, até ensaiei as palavras para proferir quando a abordasse ao encontrá-la. Fiz planos para visitá-la, ser fotografado ao seu lado para orgulhoso e feliz, mostrar aos meus filhos, mas a coragem sempre me fugia, não sei explicar por que.
Era o mês de junho, final de uma ensolarada manhã de terça-feira na Rua Chile, lá estava eu, na porta da antiga e tradicional Casa Sloper, aguardando minha mulher sair do trabalho, quando a grande oportunidade surgiu.
Olhando para o lado direito, lá vinha um hábito azul e branco, tremulado pelo vento com um corpo de mulher dentro, era ela, era o momento, o meu raro e tão aguardado momento.
Apesar de sentir uma repentina dor na coluna, uma frieza na língua e uma ligeira arritmia, eu estava preparado para me apresentar aquele meu sagrado ídolo. Respirei fundo e me posicionei, mas antes de mim, um cidadão (que eu nunca conheci, mas tenho a sua imagem até hoje na mente), antecipou-se e entusiasmadamente exclamou: Irmã!... Eu, pacientemente recuei, e aguardei o feliz cristão concluir o seu privilegiado encontro.
Mas quando ele lhe beijou a mão e despediu-se, fui acometido de um sintoma inesperado, algo como uma paralisia corporal, só conseguia fitá-la como um cinegrafista armado com sua câmara, ávido para focalizar e captar a melhor imagem.
Assim fiquei, com o olhar fixo, acompanhando, a dois metros de mim, o movimento daquele perfil, permanecendo assim por um ou dois minutos, até vê-la sumir na multidão, e conformado pensar: da próxima vez eu consigo. Mal sabia eu, que mesmo se passando muitos anos o destino jamais me daria outra oportunidade e que aquela seria a última vez que eu viria Irmã Dulce com vida.
Hoje, resta-me um consolo; o de enquanto viver, assistir todos os anos no dia 13 de março pela manhã na Igreja da Conceição a missa em sua homenagem, data esta, que por outro lado, me traz muita alegria, pois junto com a nossa harmoniosa família, comemoramos também, o aniversário da nossa adorada mãe, no que aproveito para fazer duas emocionadas saudações:
Parabéns minha grande Abigail! E, Rogai por nós, Amada Irmã Dulce!.
Max Matos, orgulhosamente dizendo tudo.